Patologização do cotidiano
E de repente tudo virou doença...todos estamos acometidos por algo nos aflige, nos tira do eixo do prumo...adoece. Essa semana tive a oportunidade de escutar o prof. Paulo Amarante junto a vice presidente da Associação Brasileira de Saúde Mental Ana Paula Guljor e a terapeuta ocupacional Priscilla Cordeiro, coordenadora do Centro de Atenção Psicossocial - Jaçana.
Uma das falas mais fortes foi sobre a patologização do cotidiano, que anda muito atrelado a intensa medicalização de tudo e todos. De repente tudo é um motivo para adoecermos. Não, que não tenhamos motivos e acredito que temos muitos, mas será que não ficamos muito iludidos com a ideia de achar que precisamos estar bem, felizes, realizados sempre... para que então possamos nos sentir bem?
De repente o simples fato de respirar, sair, ter contato social, podem adoecer. Momentos difíceis complexos.
Como disse Paulo Amarante: - que nós profissionais da saúde possamos reconhecer sim a doença, mas não abrir mão de dar espaço para a "escuta". Ajudando a organizar ideias e sentimentos que muitas vezes estão embaralhados, confusos. Medicalizar em demasia é tirar a possibilidade de localizar o foco, entender o que adoece e buscar outras alternativas para lidarmos com os problemas.
Isso não significa ignorar a doença, trabalhei em um Caps Infantil por dois anos e sei dos prejuízos trazidos pela negação e preconceitos com diagnósticos em saúde mental. Mas que possamos ver acima de tudo as pessoas antes da doença, que possamos também ter abertura para compreender o sofrimento como um todo, da vida...do simples fato de ser e tornar-se por meio dos nossos fazeres.
obs. recomendo assistir a apresentação citada acima no canal saúde da Fiocruz, imperdível.