O que os profissionais de saúde pensam sobre o novo coronavírus
Mãe, pai e irmãos médicos, madrasta enfermeira. Mesmo longe deles, busco compartilhar preocupações e dúvidas sobre a atual situação. E aí percebi que a angústia é coletiva.
Saudamos os profissionais de saúde com aplausos nas janelas pelo honroso trabalho que estão fazendo no cuidado aos pacientes em todo o mundo. Mas aí pensei em como eu poderia tentar dar voz a esses profissionais, mesmo que essa voz se restrinja à “minha bolha”, para um breve desabafo.
Foi então que tive a ideia de entrar em contato com profissionais de saúde de áreas diversas para saber como eles enxergam essa pandemia e que mensagem gostariam de transmitir.
Eles compartilharam comigo seus medos, preocupações, como estão lidando com a atual situação no dia a dia e mensagens sobre como todos podemos ajudar a enfrentar essa difícil situação.
Se algum profissional de saúde quiser participar é só entrar em contato comigo por inbox que estarei sempre atualizando este conteúdo.
Daniel Costa, médico (AL)
Ser médico em meio à pandemia:
Inicialmente tive medo de algo não muito conhecido, principalmente em relação à exposição de nossas famílias. Como profissional da rede pública, vejo ausência de treinamento e orientação, gerando muita desinformação, incorrendo em falta de transparência quanto ao uso de equipamentos de proteção individual. Devido ao imenso uso, criaram muita burocracia para termos acesso, aumentando estresse e diminuindo efetividade do trabalho.
Preocupações:
O sistema de saúde já é saturado normalmente, principalmente nos estados mais pobres. Normalmente, já há falta de insumos normalmente, mesmo antes da pandemia. Isso gera uma preocupação muito grande com o Covid-19 e com a assistência às outras doenças que continuam a existir.
Mensagem à população:
Temos que achatar a curva. O isolamento é essencial! Agora, mais do que nunca, precisamos que todos cooperem, exercitando o senso de comunidade. O seu descuido pode ter como resultado o adoecimento do seu vizinho. Os profissionais de saúde e outros de diversas áreas não tem escolha, você tem! Fique em casa!
Leandra Metsavaht, médica (RJ)
A melhor saída
A melhor saída para esta pandemia do COVID -19, é que toda população seja testada e apenas os positivos fiquem casa. Mas estamos muito longe desta rica realidade. Então só nos resta o isolamento social. Esse vírus é tão caprichoso que mata pouco, mas infecta muito. Vive mais tempo que os outros vírus nas superfícies. E os grandes “violões” são os assintomáticos, que podem matar uma pobre velhinha diabética, como sua própria avó. Aí você me pergunta: mas ela não morreria até de uma simples gripe? Sim. Mas eu, por exemplo, deixei de ir para França 15 dias antes de estourar a pandemia exatamente porque não conseguiria continuar vivendo sabendo que poderia contaminar e matar meus pais pelo CoVID-19 ou minha paciente de 95 anos que vejo em casa. A vigilância epidemiológica deste vírus te leva até quem te infectou. Por outro lado, muitas cirurgias, quimioterapias, pré-natais, tuberculosos, hansenianos, diabéticos e hipertensos estão sem assistência ambulatorial. Que dilema! Nunca estivemos numa situação desta antes. E a vacina deve demorar pelo menos uns 2 anos.
O que podemos fazer
Continuar lavando as mãos e isolamento social. É, sem dúvida, um vírus desafiador e que está virando nossas cabeças. Uma guerra onde o inimigo é microscópico. Também acredito que hospitais de campanha, como os que São Paulo está fazendo, podem ajudar. Maracanãs e Riocentros tornando centro de atendimento para COVID -19. Ainda temos muito que aprender. Precisamos nos preparar, porque teremos que conviver com o CoVID-19.
Quando tudo passar
O mundo jamais será como era antes. Qual será a próxima pandemia? Que o COVID-19 nos deixe uma lição e que consigamos nos prevenir melhor do que desta vez.
Izabella Rocha, nutricionista (RJ)
Isolamento social x estressee
Estamos passando por um momento de muito estresse, porém necessário.Torna-se fundamental estarmos em casa para o achatamento da curva de transmissão, porém é importante também que mantenhamos a saúde física e mental!
Acho que, no primeiro momento, ficamos perdidos e assustados. Então cabe a nós, profissionais de saúde, alertar sobre os riscos e tentar ajudar como podemos.
Fortalecendo o sistema imunológico
Sendo Nutricionista, reforço com meus pacientes a importância da higiene pessoal e dos alimentos, além de fornecer receitas saudáveis, nutritivas e práticas, principalmente nesse momento que estamos sem ajuda para o preparo do cardápio diário. Tais medidas são fundamentais para o fortalecimento do sistema imunológico nesse momento de vulnerabilidade.
Alimentem- se bem , Hidratem-se corretamente , Movimentem-se e realizem tarefas antes esquecidas por falta de tempo como leitura, arrumações, estudos...Vamos encarar como um período transitório e passar por ele com muita saúde.
Ilda Fontan, psicóloga (AL)
Atendimento on-line e outras reflexões
No dia de hoje amanheci pensando. O que significa isolamento social e qual o papel do psicólogo nesse período de tantas e vagas informações ? E isso dentro de uma dinâmica de, abruptamente, precisar e rever valores.
O conselho Federal de Psicologia recomendou o atendimento on-line . Fiquei pensando na dificuldade que existe nesse tipo de atendimento, principalmente os colegas que fazem atendimento ambulatorial em postos de saúde. Locais onde prevalece o atendimento presencial . Onde as pessoas buscam o acolhimento, a escuta, o abraço, que traduzem um “eu compreendo".
Desafios
Parte dos meus quarenta anos de atuação clínica foi em ambulatórios, abraçando, ouvindo , tratando. Minha grande escola no exercício da profissão foi em saúde publica.
Minha realidade de hoje é atuação em consultório particular, onde trago comigo o abraçar, o perceber o outro. Não sou da palavra, sou da lógica. Necessito dos detalhes, de presenciar o exato instante que o paciente percebe a si mesmo como senhor de sua vida.
Definitivamente não é fácil para mim esse tipo de atendimento, mas meus pacientes se tornam muito mais importantes que as minhas dificuldades a serem superadas.
Saúde mental
A queixa, a angústia sentida por cada um individualmente nesse período de isolamento me mostra a solidão crua, doida .A realidade desse entendimento me reporta ao coletivo - no momento político em que a proposta se traduz numa escolha entre pessoas e economia.
Essa onda de terror que começou a preocupar com o alastrar de um vírus e sua chegada a uma conjuntura nacional que não prioriza a dignidade humana. Onde predominam condições materiais precárias e uma total desconsideração pela saúde mental da população .
Individual x coletivo
Assim vejo o momento atual: o terror das pessoas individualmente e a dúvida coletivamente. O que faz pessoas aceitarem sair desse isolamento, priorizando o emprego e subsistência em detrimento de sua segurança física?
Percebo que , quanto mais vulneráveis estão as pessoas , mais facilmente permeáveis se tornam à ideologias de reação política. Essa aceitação vai além de um estado psíquico de passividade ; torna-se um comportamento ativo. Uma defesa contra a consciência de responsabilidade social.
Tainá Gonçalves, médica (AL)
Como avalia esse momento
É um momento delicado que enaltece a importância do papel atuante da população no processo de saúde, como também reforça a relevância da ação educativa, seja por meio dos profissionais de saúde ou da mídia. Por outro lado, do ponto de vista da saúde mental, é momento que pode agudizar quadros ansiosos prévios, assim como fazer com que prevaleçam pensamentos de desensperanca ou angústia. Além do mais, a situação demonstra, o que já era evidente, a desigualdade social, fazendo com que grupos encontrem mais dificuldade em ‘se proteger’ que outros, justamente pelas condições de moradia, monetária e de acesso à saúde. Sem dúvida, a vivência dessa pandemia traz à tona a necessidade de valorizar nosso Sistema Único de Saúde (SUS), assim como de fazer-nos pensar sobre o modo de vida que levamos.
Mensagem para as pessoas
Que possamos visitar o nosso íntimo durante o momento que estamos em casa, relembrar a importância do afeto, do ir e vir, da liberdade. Que também lembremos da situação daqueles que não podem seguir a recomendação: do ficar em casa, porque não têm uma casa, dos que estão em situação de refúgio, ou nas favelas. Existem muitas ONGs atuando com esses públicos que, mesmo de longe, é possível contribuir. É hora de fazermos a nossa parte, evitando a propagação do vírus, mas sempre propagando o amor e a humanidade.
Wenceslau Costa, médico (AL)
Coerência e equilíbrio são fundamentais nesse momento. Precisamos cuidar dos idosos, que fazem parte do grupo de risco devido as comorbidades comuns dessa faixa etária, e reforçar todas as medidas anunciadas pelo Ministério da Saúde, como a higienização correta das mãos, isolamento dos pacientes acometidos com a doença etc. Mas é necessário reavaliar em algum momento a questão do isolamento social no país para evitar um caos econômico que certamente irá provocar um caso social ainda maior.
Assessoria de imprensa e Branded Content
5 aMuito bom, Zara!! 👏👏
Comunicação corporativa/Comunicação pública - Assessora de Comunicação - Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
5 aPrecisamos ouvir os profissionais de saúde, que estão no olho do furacão e ainda têm, muitas vezes, que se afastar de suas famílias para protegê-las.