O DESCONTENTAMENTO

O DESCONTENTAMENTO

O descontentamento ou insatisfação é aquela sensação de que alguma coisa está faltando. Não adianta uma pessoa ter casa, filhos, doutorado, casamento ou profissão. Pois, o que vai preencher esse vazio não está no ter.

Atualmente as pessoas vivem em um conflito: por um lado, sempre estão em débito com: a família, os amigos, o trabalho e até com elas mesmas. Sentem-se cercadas pelo excesso de responsabilidades, obrigações e informações a consumir. Essa carga pesada de demandas, que não conseguem cumprir totalmente, deixam-mas com a sensação de que o saldo está negativo com os deveres. Dessa forma, as pessoas tem a sensação de que não conseguem ''dar conta do recado", de que fracassaram.

Por outro lado, existe um arsenal de desejos estimulados pela sociedade de consumo, que nunca se consegue satisfazer. É a ideia de que sempre se precisa de alguma coisa a mais para preencher a vida: uma roupa ou um sapato novos, um carro melhor, um salário mais polpudo, um livro a mais na estante, um relacionamento mais intenso. Por trás desse querer, está embutido o pensamento de que esse ''algo a mais'' vai, finalmente, ocupar aquele espaço vazio que incomoda eternamente. As pessoas sentem-se ávidas para obter essa última peça do quebra-cabeça que as tornará felizes. Mas, quando conseguem obter essa peça, sentem novamente o vazio e a insatisfação rondando suas vidas.

O problema é que o ser humano não se pergunta sobre a justeza daquilo que é esperado dele. Por quê cumprir determinadas metas com tanto rigor? Elas realmente valem a pena? São objetivos ditados por ele mesmo, ou pela sociedade?

No começo do século passado, Sigmund Freud, o criador da psicanálise chamou a essa voz interna de ''superego", um dos três aspectos do aparelho psíquico humano, junto ao ''ego'' e ao ''id''. Segundo Freud, o ''superego'' faz com que as pessoas incorporem as regras e padrões da sociedade sem questioná-las. Se ele pode ajudar as pessoas a fazerem conquistas, também pode se tornar um ''carrasco'', se elas não o obedecerem cegamente. Quando as pessoas não conseguem cumprir o que é esperado delas, o ''superego'' passa a fazer cobranças que dominam a mente das mesmas. Então elas mergulham na culpa, insatisfação, frustração e outras psicopatologias.

Essa situação piora muito na modernidade, pois os papéis sociais se tornaram múltiplos, complexos e muitas vezes conflitantes. Nem sempre o problema é com as pessoas que não conseguem cumprir suas obrigações. Ele pode estar do outro lado, em estruturas sociais injustas, ou com o exercício de um capitalismo selvagem, por exemplo. A superação que é exigida, pode ser uma exploração. O ser humano deve-se voltar para ''dentro'', acalmar essas vozes internas com cobranças excessivas. E deixar de colocar a noção de ''sucesso'' e ''fracasso'' apenas no que a sociedade estabeleceu, sem se ouvir dizendo o que é mais importante para si mesmo.

Existem maneiras de não ''sucumbir'' diante dessa situação. Várias correntes de psicologia apontam alguns caminhos. Um deles é lembrar-se que a vida é uma dança, uma parceria. Uma vez ''dá certo'' e outra não. Outro caminho consiste em estar mais perto do corpo e da natureza. Saber impor limites a si próprio também faz bem de vez em quando. Outra providência é estar conectado ao próprio mundo interior. Pois, a felicidade interna é mais estável, feita de ondas e não de picos.

Mas não é necessário jogar totalmente fora a insatisfação. Grandes mudanças sociais e individuais ocorrem quando as pessoas estão insatisfeitas. Que a insatisfação seja, então, um passo para o crescimento espiritual.





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  • Piatã

    Piatã

    CONSULTÓRIO PSICOLÓGICO:Particular e convênios.

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