Há de se ter esperança

Há de se ter esperança

Hoje é um dia muito triste para todos os brasileiros. Nas últimas 24 horas o país contabilizou 1.720 mortes em decorrência da Covid-19. Eu não queria abrir um texto assim, um ano após o primeiro caso confirmado de coronavírus em São Paulo.

Não só pela tristeza que o fato por si só já causa. Mas, também, por um sentimento pessoal, uma frustração...

Há um ano eu saio da minha casa, todos os dias, e peço a Deus pra me manter saudável, apesar dos riscos. Eu saio porque tenho que trabalhar, boletos a pagar, mas também porque quando me propus a fazer o que faço, foi com o objetivo de levar informação séria e verdadeira para a população. Estes quase 10 anos coordenando assessorias de imprensa de órgãos públicos foram mais que suficientes para me provar que a informação salva.

No entanto, só em 2020 eu realmente entendi que ela também mata. Há um ano trabalhamos combatendo fake news. Não teve um dia sequer que não tenha surgido uma notícia falsa, com alguma informação que levou a atitudes irresponsáveis e que pode ter contribuído com a dor das milhares de famílias que perderam seus entes queridos.

Aliás, aproveitando o espaço, não existe tratamento preventivo para a Covid-19, o vermífugo invermectina e a cloroquina não curam o coronavírus, assim como a vacina não causa autismo, não faz virar jacaré e não são os chineses querendo colocar um chip em você.

Seguimos o jogo. É frustrante, cansativo e muitas vezes triste, como hoje. Mas, em algum momento, há de ser compensador. Eu realmente espero que as pessoas que ainda não entenderam a gravidade do que estamos vivendo não tenham que perder alguém próximo para que isso aconteça.

Entendo toda dificuldade que temos para ficar em casa, nos manter em distanciamento, conseguir sobreviver sem uma renda fixa, inclusive em relação a outros países. Mas, o que temos visto é que não estão fazendo o básico do básico. Neste final de semana as fiscalizações do Governo de SP encontraram uma balada fechada com mais de 500 pessoas e um baile com 190 idosos. A maior parte das pessoas sem máscaras.

Eu nunca vou entender como que, com quase 260 mil mortes no país, hospitais completamente lotados, pessoas morrendo por falta de oxigênio e/ou por um leito numa UTI e tem gente que têm cabeça para pensar em festa!

Não temos o que comemorar. Como comemorar sabendo que a situação tende a piorar diante das cenas lamentáveis vistas em mais este final de semana?

Ainda que haja inúmeras dificuldades, nós seguiremos aqui em nossa luta diária, torcendo para que, além de seguir as recomendações médicas, tenham empatia, esse verbo tão pouco usado entre nós. É tão simples, colocar-se no lugar do outro pensando em como agiria nas mesmas situações. 

Eu sei que aqui não é uma rede social para imagens tão pessoais como a que acompanha este texto. Mas é por ela que eu te peço que tenha empatia. Essa foto foi tirada em 8 de março de 2020, em comemoração ao aniversário de 75 anos da minha mãe. Foi a última vez que eu estive tão perto da minha família, meus pais, tios, irmão, cunhada e sobrinha, a Sofia. Na semana passada foi aniversário da Sofia, 8 anos, e eu não pude estar pessoalmente. Ela mandou um áudio pro meu irmão, perguntando se eu não a amava mais, já que eu nunca ia vê-la. Dói. Bastante. Mas, sei que é uma dor necessária neste momento e que correr o risco de ficar doente ou deixar meus familiares doentes é muito pior que qualquer distância física.

Por favor, usem máscara, se protejam, se possível, fiquem em casa. Ainda temos dias difíceis pela frente, mas espero que não sejam tão tristes como hoje... há de se ter esperança.


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