Evidências científicas nas Doenças Raras: 13 milhões de pessoas existem!
Recentemente, recebi uma mensagem inesperada em uma das minhas redes sociais. Era uma estudante de uma outra instituição que, entusiasmada, relatou seu interesse em realizar o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre doenças raras. Ela compartilhou que o interesse pela temática surgiu ao acompanhar meus conteúdos, que frequentemente abordam esse universo tão relevante, mas ainda pouco explorado. Contudo, a estudante também revelou um obstáculo: ao apresentar a ideia ao grupo de TCC, enfrentou críticas. Disseram-lhe que "doenças raras não tinham comprovação científica suficiente".
Essa situação me motivou a escrever este artigo, não apenas para fortalecer o ânimo dessa estudante e de tantos outros que se interessam por essa área, mas para deixar claro: as doenças raras têm, sim, ampla base de comprovação científica. Vamos explorar evidências científicas que destacam a importância do estudo e do cuidado relacionado a elas.
1. Descrições Genéticas e Moleculares
Estudos de sequenciamento genômico e exômico têm identificado milhares de variantes genéticas associadas às doenças raras. Por exemplo, o projeto Global Genes ajudou a mapear centenas de doenças raras com base em mutações genéticas.
Segue Estudos:
Desafios e Direções Futuras
Em resumo, a pesquisa genética e molecular de doenças raras está avançando rapidamente, com novas tecnologias e abordagens que prometem melhorar significativamente o diagnóstico e tratamento dessas condições complexas.
2. Bases de dados reconhecidas
O Atlas Brasileiro Online de Doenças Raras é um serviço da Rede Nacional de Doenças Raras. Ele foi criado para disseminar informações sobre epidemiologia, quadro clínico, recursos diagnósticos e terapêuticos usados, e custos relacionados a doenças raras de origem genética e não genética no Brasil.
O GARD é um recurso de saúde pública criado pelo Rare Diseases Act de 2002, que utiliza a Ciência Translacional para melhorar os procedimentos de pesquisa. Ele oferece suporte, informações sobre doenças, pesquisas em andamento e tratamentos disponíveis, sendo uma excelente fonte para quem deseja aumentar seu conhecimento sobre doenças raras e ajudar aqueles que possuem um distúrbio raro.
O Orphanet é uma base de dados que contém informações epidemiológicas sobre 6172 doenças raras únicas, das quais 71,9% são genéticas. Ele fornece estimativas de prevalência global, que são essenciais para informar políticas públicas de saúde6 7.
O painel MorbidGenes é uma lista atualizada mensalmente de genes relevantes para o diagnóstico de doenças raras, derivada de diversas fontes como OMIM, PanelApp, SysNDD, ClinVar, HGMD e GenCC. Ele inclui 4960 genes com evidências mínimas suficientes sobre a causalidade da doença.
O RGD oferece recursos para a pesquisa de doenças raras, incluindo definições de doenças, genes, loci de características quantitativas (QTLs), variantes genéticas e links para recursos externos. Ele é útil para identificar linhagens celulares e cepas de ratos relevantes que servem como modelos para a pesquisa de doenças4.
Este banco de dados é acessível via navegador e foi desenvolvido para aumentar o tamanho de coortes, identificar marcadores substitutos e fomentar colaborações internacionais. Ele é projetado para ajudar na preparação de ensaios clínicos e estudos de história natural de doenças raras.
Este banco de dados utiliza o ORPHAcode para uma codificação precisa das doenças raras, melhorando a documentação clínica e o monitoramento de indicadores de desempenho em hospitais. Ele é baseado no catálogo Orphanet e pode ser adaptado para condições locais.
As bases de dados de doenças raras, como GARD, Orphanet e MorbidGenes, são recursos valiosos que oferecem informações abrangentes sobre a prevalência, genética e tratamento de doenças raras. Elas são essenciais para a pesquisa, diagnóstico e desenvolvimento de políticas de saúde pública, além de facilitar colaborações internacionais e avanços em ensaios clínicos.
3. Estudos de prevalência
Apesar de cada doença rara afetar um número pequeno de pessoas, há estudos populacionais que mostram que, juntas, essas doenças afetam cerca de 6% a 8% da população mundial. No Brasil, estima-se que 13 milhões de pessoas vivam com alguma doença rara.
Segue estudos:
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Estudos de prevalência de doenças raras são cruciais para a formulação de políticas de saúde pública e para o desenvolvimento de tratamentos. No entanto, a falta de dados abrangentes e de alta qualidade continua sendo um desafio significativo. Melhorar os registros e a codificação de doenças raras nos sistemas de saúde pode ajudar a refinar essas estimativas no futuro.
4. Tratamentos baseados em evidências
As doenças raras representam um desafio significativo devido à sua baixa prevalência e alta complexidade. Apesar dos avanços na pesquisa e no desenvolvimento de terapias, muitas dessas doenças ainda carecem de tratamentos aprovados. No entanto, várias abordagens terapêuticas estão sendo exploradas para atender a essa necessidade.
Modalidades Terapêuticas
5. Impactos socioeconômicos
As doenças raras apresentam impactos profundos e abrangentes, afetando pacientes, famílias e a sociedade em diversas dimensões socioeconômicas. Esses impactos incluem custos diretos e indiretos, redução na qualidade de vida e pressões adicionais sobre os sistemas de saúde.
Os custos diretos estão associados principalmente a medicamentos de alto custo e tratamentos especializados. Já os custos indiretos envolvem perda de produtividade, afastamento do trabalho e a necessidade de cuidados informais, muitas vezes assumidos por familiares. Essas despesas, muitas vezes não cobertas por seguros, podem comprometer significativamente o orçamento familiar.
Do ponto de vista econômico, as doenças raras reduzem a capacidade produtiva de muitos indivíduos, diminuindo a arrecadação de impostos e aumentando a dependência de auxílios públicos. Isso gera um impacto considerável nas finanças governamentais e sociais.
A qualidade de vida dos pacientes é frequentemente comprometida por sintomas físicos e emocionais associados às condições raras. A carga financeira e emocional também atinge diretamente as famílias, especialmente quando o diagnóstico é tardio, intensificando os desafios.
Cuidadores de pessoas com doenças raras enfrentam dificuldades adicionais, incluindo sobrecarga emocional e prejuízos financeiros. Muitos precisam abandonar ou reduzir sua atividade profissional para atender às demandas de cuidado, resultando em perda de renda e instabilidade econômica.
As doenças raras impõem uma carga econômica e social significativa, afetando a qualidade de vida dos pacientes e suas famílias, além de representar desafios para os sistemas de saúde e políticas públicas. Há uma necessidade urgente de abordagens mais integradas e políticas direcionadas para mitigar esses impactos e melhorar o suporte a essa população vulnerável.
6. Relatos de caso e Séries de casos
Relatos de caso desempenham um papel crucial na identificação e compreensão de doenças raras. Eles são frequentemente a primeira fonte de informação sobre a apresentação, manejo e resultados de doenças raras, além de introduzirem associações clínicas únicas e paradigmas de tratamento eficazes. Esses relatos são fundamentais para a educação médica, ajudando a identificar complicações de tratamento e efeitos colaterais, além de contribuírem para a farmacovigilância.
Sugestão de leitura: Ganesan, P. (2022). How to write case reports and case series. International Journal of Advanced Medical and Health Research, 9, 55 - 58.
Relatos de caso e séries de casos são ferramentas valiosas na medicina, especialmente para doenças raras, oferecendo insights iniciais e promovendo a educação médica. No entanto, é crucial abordar suas limitações e integrar novas tecnologias para melhorar o diagnóstico e o tratamento dessas condições. A implementação de ferramentas digitais e a inclusão de relatos de caso em revisões sistemáticas podem ajudar a superar alguns dos desafios associados ao estudo e manejo de doenças raras.
7. Redes de apoio e cooperação científica na Enfermagem
A formação de redes globais de pesquisa, como a GNNRD (Global Network for Nursing in Rare Diseases), tem gerado colaborações científicas importantes que reforçam a produção de conhecimento nessa área.
Você é profissional de enfermagem ou estudante interessado em Doenças Raras?
Junte-se à GNNRD (Global Network for Nursing in Rare Diseases), uma rede global que conecta profissionais para compartilhar experiências, impulsionar colaborações científicas e transformar o cuidado de pessoas com doenças raras.
📩 Entre em contato comigo para saber mais e fazer parte dessa iniciativa. Cadastra-se aqui: www.gnnrd.org
Considerações finais
Ao contrário do que foi dito ao grupo de TCC daquela estudante, as doenças raras têm uma vasta e crescente base de evidências científicas. O estudo e a divulgação de informações sobre essas condições são cruciais para ampliar o acesso ao cuidado e melhorar a qualidade de vida de milhões de pessoas.
Espero que esse artigo inspire não apenas essa estudante, mas também outros profissionais e acadêmicos a mergulharem no campo das doenças raras com confiança e dedicação.
Consultora Técnica| Consultora Hospitalar | Propaganda Médica | Relações Públicas
2 mMuito informativo!!
Estudante tecnico de enfermagem na Grau Técnico
2 mMuito informativo
Director of Government Affairs at Vertex Pharmaceuticals
2 mPrezada GEISA LUZ, meus cumprimentos pela qualidade do texto e das informações sobre o cenário das Doenças Raras no Brasil e no mundo. Gostaria de sugerir a leitura do projeto "Radar dos Raros" realizado pela iniciativa privada em parceria com o jornal Correio Braziliense. Este projeto mapeou a PRODUÇÃO LEGISLATIVA histórica dos últimos 22 anos no congresso nacional, onde apenas 0,3% de todos os projetos de leis apresentados foram destinados à Doenças Raras. Sem duvida nenhuma necessitamos avançar nas discussões sobre politicas de saúde no poder legislativo. www.correiobraziliense/radardosraros. Parabéns pelo engajamento e boa leitura.
Secretária executiva trilíngue C level | Assistente executiva trilíngue | Trilingual executive assistant | Tradutora de inglês | Revisora de português | Office Manager |
2 mDaniela Vuolo
É possível lidar melhor com o estresse antes do burnout chegar! | Médica especialista em Acupuntura | Manejo do estresse | Meditação para saúde | Instrutora de Manejo de Estresse e Meditação para empresas e grupos
2 mMais um ótimo texto, Geisa! E exatamente por serem doenças raras é que precisamos estudá-las cada vez mais. Tomara que essa estudante não desista do tema e que ainda mais pessoas se inspirem a partir dos seus textos!