Da Maternidade à Mesa: Como a Aquanostra Revoluciona a Produção de Ostras em Portugal

Da Maternidade à Mesa: Como a Aquanostra Revoluciona a Produção de Ostras em Portugal

Pronto para conhecer melhor as fases do Ciclo Produtivo e as Tecnologias que investigámos e desenvolvemos ao longo dos últimos anos? Continue a ler.

Na Aquanostra, somos pioneiros na reprodução de bivalves em Portugal, a empresa nasceu de um projeto de I&D nesta área e cresceu, ao longo dos últimos dez anos, para se tornar um dos principais produtores aquícolas em Portugal, o único com o controlo sobre o ciclo completo de produção da ostra.


A inovação e a I&D fazem parte do ADN da Aquanostra e acreditamos que só assim nos será possível almejar tornarmo-nos um dos principais nomes da aquacultura mundial e nos mantermos na liderança do sector de forma sustentada. Este nosso esforço e capacidade foi reconhecida pela ANI (Autoridade Nacional de Inovação) através da atribuição do Selo ID, de reconhecimento de idoneidade na prática de atividades de I&D.

Em todas as fases do ciclo, usamos sistemas de produção desenvolvidos internamente e que, alguns deles, vêm revolucionar a produção de ostras (e potencialmente de outros bivalves), criando uma base tecnológica que pode ser aplicada em diversos campos e ajudar a solucionar os principais desafios da indústria a nível mundial. 

Neste artigo iremos explicar as várias fases do ciclo da ostra controladas pela Aquanostra e dar um overview das tecnologias e técnicas desenvolvidas e aplicadas em cada uma delas, num artigo futuro iremos ao detalhe de cada uma delas:

1.      Maternidade

2.      Berçário (nursery)

3.      Longlines

4.      Acabamento

5.      Depuração



 1. Maternidade

Esta é a fase onde tudo começa, quer o ciclo de vida da ostra, quer a história da Aquanostra, que teve na sua génese um projeto de I&D em reprodução de bivalves, onde desenvolveu os protocolos aplicados atualmente na reprodução.

Na Aquanostra, focamo-nos na reprodução da espécie Ostrea edulis, nome cientifico da Ostra Plana. Esta espécie aplica uma estratégia reprodutiva muito própria que, por sua vez, torna o controlo da reprodução desta espécie muito desafiante. Por esta razão, e ao contrário da espécie de ostra mais produzida no mundo, a Ostra Japonesa(Crassostrea gigas), não existem maternidades comerciais de Ostra Plana, o que torna a Aquanostra numa das única maternidade com sucesso comprovado e sustentado na reprodução desta espécie.

O sucesso na reprodução desta espécie, tão desafiante, implicou cerca de 3 anos de I&D e muita resiliência. Percebemos que, num processo tão complexo e recheado de milhares de pequenos fatores, o segredo não está no foco em um grande detalhe, que otimizado irá resolver todos os problemas, mas sim, em pequenas mas numerosas otimizações, que no seu conjunto culminam no sucesso de todo o processo.

A reprodução de qualquer espécie de bivalve em maternidade, é feito em ambiente indoor, totalmente controlado. A qualidade de água é altamente controlada, assim como a sua esterilização. Esta é usada nos diversos processos que compõem uma maternidade:

1.      Acondicionamento de reprodutores – Criar as condições ideiais para que os reprodutores entrem em fase de desova e garantir a qualidade dessas desovas

2.      Produção de microalga – Produção de culturas mono-espécie que compõem a alimentação dos reprodutores, larvas e juvenis

3.      Cultivo larvar – Após recolha dos oócitos e espermatozoides, a fecundação é feita e acompanhada em ambiente controlado para ser depois colocada nos tanques de cultivo larvários, onde as larvas nadam livremente na coluna de água e se alimentam. Cabe-nos garantir os parâmetros ótimos para o seu desenvolvimento larvário.

4.      Fixação – As larvas, ao chegar ao estágio de desenvolvimento em que procuram um substrato para se fixarem, são transferidas para os tanques de fixação

5.      Micronursery – As larvas, após fixação e metamorfose, transformam-se em pequenas ostras, com cerca de 300µm, e crescem num sistema especializado até cerca de 1mm


 2. Berçário

Quando as ostras atingem cerca de 1mm, são transferidas para no nosso sistema de berçário (nursery), no estuário do Sado, onde crescem até aos 18mm, num sistema altamente controlado com capacidade de produção de 25 a 30 M de ostras por ano.


Esta fase, é uma fase extremamente vulnerável para os juvenis de ostra, uma vez que saem de um ambiente totalmente controlado, livre de agentes patogénicos, e são introduzidos em ambientes com um grau de controlo menor, onde são expostos as vírus, bactérias, zooplâncton etc.

Normalmente, nesta fase podem acontecer grandes eventos de mortalidade, principalmente devido a um vírus, OsHV-1 µvar, da família dos herpesvirus.

A Aquanostra, num trabalho que durou cerca de 4 anos e implicou um investimento importante, desenvolveu e implementou um sistema completamente inovador. Com o objetivo primário de desenvolver um sistema fechado, “à prova” de OsHV-1, acabou por desenvolver um sistema fechado de recirculação, de larga escala, em tanques de terra, que denominou P.RAS (Pond Recirculation Aquaculture System) e que permite o controlo dos principais fatores que têm implicação direta na produção de semente de ostra de qualidade:

1.      Qualidade de água (pH, OD, Salinidade)

2.      Patologias

3.      Alimento (qualidade e quantidade)

4.      Exposição ao ar (duração e timings)

Quando as sementes de ostra alcançam os 12mm, e com a alta qualidade que a otimização dos parâmetros e do procedimentos aplicados asseguram, já se encontram numa fase com maior resiliência ao OsHV-1 e estão preparadas para serem colocados nos sistemas de produção da Aquanostra ou dos nossos parceiros.

Acreditamos que o sistema P.RAS pode ter um impacto importante em outras áreas da indústria e ajudar a resolver alguns dos problemas que a afetam a nível mundial.

 


3. Longlines

As ostras vindas do nosso berçário, com os altos padrões de qualidade aplicados, são depois colocadas nos sistemas de produção, onde crescem até ao tamanho comercial (65 a 200g). 

O sistema de produção em longlines é o último desenvolvimento da Aquanostra e encontra-se em fase de desenvolvimento. Este surge após 4 anos de desenvolvimento e permite encarar a produção de ostra de uma perspectiva completamente nova e perceber em maior profundidade a fisiologia destes animais, assim como alguns dos fatores que levam problemas que afetam enormemente a indústria como os significativos e recorrentes eventos de mortalidade.


O sistema envolve o crescimento das ostras em sistema de longlines, em que é anulada a competição entre ostras e os stresses presentes nos sistemas tradicionais, resultando numa mortalidade virtualmente nula e uma qualidade excecional. Este sistema também possibilita a otimização, mecanização e redução da manipulação das ostras, tornando o processo mais eficiente e sustentável .

Este sistema permite-nos também explorar, estudar e melhorar áreas de elevada importância como a questão da sustentabilidade e bem estar animal. Em parceria com a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa , a Aquanostra está a iniciar um projeto que olha para este sistema, comparando-o com outros, e avaliando quais os reais impactos (positivos e negativos) destes no ecossistema e na própria ostra (mortalidades e bem estar animal). No tema dos impactos, iremos estudar o saldo de carbono e outros nutrientes, a influencia do sistema na filtração da água e combate à eutrofização, o impacto da ação das estruturas como recifes na biodiversidade e reprodução de espécies locais.


 4. Acabamento

No momento em que as ostras atingem o tamanho comercial requerido, são retiradas do nosso sistema de longlines e, ou são transferidas para a depuradora para serem comercializadas, ou passam por um sistema de acabamento.


O sistema de acabamento pode servir diferentes propósitos:

1.      Afinar alguma característica do lote

2.      Possibilitar a stockagem do lote

3.      Garantir a segurança alimentar

O sistema desenvolvido para esta fase, denominado internamente como HDP (Hidrodynamic Pond) é uma sistema que envolveu a otimização e desenvolvimento de um desenho próprio para os sistemas intertidais tradicionais rotativos e o melhoramento da hidrodinâmica dos tanques de terra, que vai garantir as condições ideais para as ostras se manterem no sistema.

A conjugação desta tecnologia com a tecnologia P.RAS permite-nos realizar um acabamento que garante a segurança alimentar das nossas ostras, não só a nível de carga microbiológica mais tradicional (E.coli, Salmonella, vibrios, etc) mas também a nível de contaminações virais, como Norovirus ou Hepatite A. Sendo que o Norovirus é um dos principais desafios atuais da indústria a nível mundial.


 5. Depuração

Por último, as nossas ostras, assim como todos os outros bivalves comercializados pela Aquanostra, passam pela fase de depuração.

Os bivalves alimentam-se através da filtração seletiva da água da sua zona de produção, ao filtrarem a água retiram os microrganismos que compõem a sua dieta, maioritariamente microalgas, mas também leveduras e outros microrganismos. Entre estes, podem estar presentes alguns tipos que podem ser potencialmente patogénicos para os consumidores.


Assim, nesta fase os bivalves permanecem num sistema indoor e altamente controlado, em que a água é tratada de forma a estar livre de qualquer microrganismo. Durante um período mínimo de 24h, os bivalve encontram-se neste ambiente estéril, onde libertam, através das fezes toda a carga bacteriológica presente no seu sistema digestivo, anulando qualquer risco associado ao seu consumo, relacionado com estes tipos de microrganismos (E.coli, salmonela, vibrios)

Este processo é extremamente eficaz para este grupo de microrganismos, mas revela-se ineficiente no controlo do risco associado a vírus. O que torna tão importante o desenvolvimento de novos sistemas que colmatem estas lacunas. E é nestes casos que aplicamos o procedimento de passagem pelo nosso sistema que assegura o controlo de vírus.

No Centro de Depuração e Expedição da Aquanostra possuímos os meios técnicos e capacidade para depuração de 6,5 toneladas por dia, assim como uma equipa dedicada com os meios para assegurar o correto cumprimento dos sistemas de segurança alimentar e procedimentos de controlo de qualidade, embalamento e expedição que garantem que o nosso produto chega à sua casa ou restaurante de eleição com toda a segurança, frescura e qualidade!

 

Artigo escrito por:

António Correia – Managing Director Aquanostra, formado em Biologia e mestre em Aquacultura



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