CEO: Está na hora de ser conselheiro?

CEO: Está na hora de ser conselheiro?

A transição de um executivo para o papel de conselheiro de administração ou consultivo é frequentemente vista como uma continuação natural de sua carreira. Muitos consideram o auge de sua trajetória profissional alcançar o posto de conselheiro. É comum observar executivos buscando e se preparando para essa evolução, o que é perfeitamente compreensível.

Recentemente, alguém me questionou se um executivo poderia iniciar sua carreira como conselheiro antes mesmo de encerrar seu período como executivo. Essa possibilidade existe? E, se sim, seria viável para um executivo começar a "treinar" como conselheiro, assumindo um ou dois conselhos e acumulando ambas as funções?

Essa questão suscita uma reflexão necessária. Existem aspectos positivos e negativos a serem ponderados. Há ganhos e perdas em todas as direções, e é essencial examinar essa situação quando este momento ocorre. Muitos executivos frequentam nosso Programa de Desenvolvimento de Conselheiros (PDC) na Fundação Dom Cabral (FDC) em busca de conhecimento e networking para se prepararem para essa mudança. Aqui, a reflexão é crucial.

É preciso considerar três perspectivas: a da empresa que está contratando um conselheiro que é executivo, a da empresa que tem um executivo que também será conselheiro em outra empresa e a do próprio conselheiro que é um executivo.

Minha primeira recomendação é estabelecer clareza nas relações. Todos os envolvidos devem estar cientes e concordar com a assunção de novas responsabilidades. Algumas empresas não permitem que seus executivos assumam outras funções. Outras empresas não aceitam que seus conselheiros ocupem cargos executivos. Acredito que a questão principal aqui seja a dedicação. Surge a pergunta: como será a dedicação e as prioridades dessa pessoa? Em momentos de maior necessidade de uma ou outra organização, qual será a prioridade caso não haja tempo para atender ambas de forma eficaz? Tudo deve ser discutido e esclarecido. As situações devem ser imaginadas e pensadas!

Ter um CEO atuando como conselheiro em outra empresa pode ter uma série de pontos positivos e negativos, tanto para o CEO quanto para as empresas envolvidas. Aqui estão alguns deles:

Pontos Positivos:

  1. Ampliação da Rede de Contatos: Ser conselheiro em outra empresa permite ao CEO expandir sua rede de contatos, conhecendo outros líderes do setor e potenciais parceiros de negócios.
  2. Diversificação de Experiências: Ao se envolver com outra empresa como conselheiro, o CEO pode obter insights valiosos sobre diferentes setores, mercados e modelos de negócios, que eventualmente poderão ser aplicados em sua própria empresa.
  3. Desenvolvimento Pessoal: O papel de conselheiro oferece ao CEO a oportunidade de desenvolver habilidades de liderança, negociação e tomada de decisão em um ambiente diferente de seu dia-a-dia como CEO.
  4. Fonte de Aprendizado: Participar como conselheiro pode ser uma fonte contínua de aprendizado, permitindo ao CEO acompanhar as tendências do mercado e as melhores práticas de governança corporativa.
  5. Relacionamento com o Conselho: Estar em uma posição diferente da habitual pode ajudar o CEO a conhecer e se relacionar melhor com o Conselho da empresa em que atua como executivo.

Pontos Negativos:

  1. Conflito de Interesses: Ser conselheiro em outra empresa pode levar a potenciais conflitos de interesse, especialmente se as empresas estiverem em setores concorrentes ou se houver oportunidades de colaboração entre elas. Até mesmo estratégias podem migrar de uma para outra, ocasionando eventuais problemas.
  2. Divisão de Tempo e Energia: Participar como conselheiro em outra empresa pode exigir um comprometimento significativo de tempo e energia para realizar bem a nova tarefa, o que pode distrair o CEO de suas responsabilidades principais em sua própria empresa.
  3. Diluição do Foco: Envolver-se em muitos conselhos pode diluir o foco do CEO em sua própria empresa, dificultando a dedicação de recursos e atenção necessários para impulsionar o crescimento e a inovação.
  4. Risco de Imagem e Reputação: Se uma das empresas enfrentar problemas sérios, a associação do CEO como conselheiro pode prejudicar sua imagem e a reputação da outra, mesmo que ele não tenha responsabilidade direta pelos problemas.

O melhor momento para um CEO atuante se envolver como conselheiro em outra empresa depende de vários fatores, incluindo a maturidade e estabilidade de sua própria empresa, seu nível de governança, bem como seus objetivos pessoais e profissionais. Ao falar com alguns colegas conselheiros, parece que a resposta dominante está quando o CEO se prepara para a sucessão na empresa em que está e sua preocupação com as operações nesta é menor. Este momento seria ideal para começar sua carreira como conselheiro. Alguns colegas sugerem que antes disso pode gerar estresse nas relações em ambos os lados e um término precipitado da carreira de CEO.

É interessante também observar casos em que um conselheiro se torna CEO. Temos muitos exemplos no Brasil. Recentemente tivemos um caso que um conselheiro assumiu a posição de CEO. Aqui surge outra pergunta: será que esses conselheiros realmente desejam ser conselheiros profissionalmente ou estão em busca de oportunidades que surgem? (podem olhar um post que fiz em 30/01/24 intitulado “Governança: Conselheiro como CEO?” para mais considerações).

Em última análise, a decisão de um CEO atuante assumir o papel de conselheiro em outra empresa deve ser cuidadosamente considerada, levando em conta os benefícios potenciais, bem como os desafios e impactos que isso pode ter em sua empresa atual e em sua própria carreira. Não existe uma regra a ser seguida.

O que você acha? O que recomendaria a um amigo CEO? Aguardo seus comentários. O debate está apenas começando.

Andre Dytz

Executive C-Level / Board Member / Advisor / Management Thinker

11 m

A vaidade não pode adentrar na sala do Conselho.

Everson Oppermann

Aconselhamento financeiro para viver 100 anos

11 m

Estimado Procianoy, me parece que considerasse todas as questões relevantes na linha de raciocínio trilhada. Pessoalmente, penso que o executivo forja seu habilidade como conselheiro apreendendo com seu próprio Conselho, especialmente se este órgão for diverso e plural. Como ser conselheiro sendo CEO noutra empresa sem ser excessivamente executivo? Às atitudes esperadas de um cargo são diferentes de aconselhar. Se é um processo "natural" um CEO tornar-se conselheiro no futuro, argumento que o itinerário adequado seja ter atuação como conselheiro em entidades de classes ou filantrópicas, entre pares de igual status, dado que esta aprendizagem tende a qualificar melhor a escuta e ajuda no desapego do poder exercido por ser executivo.

Jorge Zanette

CFO and Certified Board Member (CCA & CCF) by IBGC

11 m

Ótimo questionamento Jairo. Acredito que o melhor momento para um CEO, assim como para os demais executivos C-level, pleitear uma posição de conselheiro é após ter adquirido profundo conhecimento de gestão e direção de empresas, incluindo: planejamento estratégico, governança corporativa, gestão de pessoas, finanças, M&A, gestão de risvo, visão, missão e cultura empresarial. Adicionalmente, deve-se avaliar eventual conflito de interesse entre as duas posições, bem como a disponibilidade de tempo para atender adequadamente as duas funções. Por fim, recomendaria, também, buscar cursos de formação de conselheiros e obter a devida certificação. Abs

Valdemir Costa

Gestão, desenvolvimento e expansão de negócios, especialista no mercado financeiro - banking, agro, internet, tecnologia, energia. Reestruturação de empresas. Governança corporativa. M&A. Mentoria

11 m

Ótimas colocações, tanto do artigo, quanto nos comentários até o momento. Penso que há exatamente os pontos positivos e negativos citados por você, destacando, nos negativos, principalmente o conflito de interesses. Mas, se for possível superar o tema do conflito (principalmente a atuação em outros ramos de atividade), e considerando que todas as partes estão "maduras" para jsso, entendo que a participação de executivo em outros Conselhos pode ser positivo para várias todos, inclusive compartilhando ótimas práticas, experiências, etc., entre os envolvidos. Apesar de respeitar as culturas mais "fechadas", acredito mais no modelo em que as boas relações, inclusive entre as PJs, trazem retornos positivos para todos

João Verner Juenemann

Conselheiro de Administração, Conselheiro Fiscal e Membro de Comitê de Auditoria Experiente IBGC

11 m

Caro Procianoy Como sempre, parece a mim, que a tua bagagem acumulada em termos de professor, executivo e conselheiro, estão bem representados nas combinações relatadas. Para mim, creio sejam etapas distintas na vida de cada profissional: inicia como executivo, buscando, no tempo, distintas posições executivas, em empresas de distintos ramos de atividade, nas quais essa pessoa se sinta bem e absorve os conhecimentos relacionados a esse negócio. Na medida em que a idade e a experiência aumentam, é o momento em que o executivo pode buscar uma atividade de Conselheiro de forma parcial, angariando novas experiências e gradualmente migrando da área executiva e para a de Conselheiro, sempre de olho nas oportunidades que lhe possam surgir, para, bem mais adiante, manter-se exclusivamente na condi ação de Conselheiro de Administração. Nada de extraordinário, somente as lições básicas. Abraço Juenemann

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